+989359645094
Compartilhar nas redes
Exegese Al-Mizan – Investigação Tradicional (Ḥadīth) sob Vs. 6-7 do Cap. Al-Fátiha

Investigação Tradicional (Ḥadīth)

No al-Kāfī, é narrado do Imam al-Ṣādiq (A.S.) sobre o significado da adoração (ʿibāda):

“A adoração é de três tipos: há quem adore a Deus por medo — essa é a adoração dos escravos; há quem O adore buscando recompensa — essa é a adoração dos assalariados; e há quem O adore por amor — essa é a adoração dos livres, e ela é a mais elevada forma de adoração.”

No Nahj al-Balāgha, também se diz:

“Há quem adore a Deus movido pelo desejo — essa é a adoração dos comerciantes; há quem O adore por temor — essa é a adoração dos escravos; e há quem O adore por gratidão — essa é a adoração dos livres.”

No ʿIlal al-Sharā’iʿ, al-Majālis e al-Khiṣāl, é narrado do Imam al-Ṣādiq (A.S.):

“As pessoas adoram a Deus de três formas: um grupo O adora buscando recompensa — essa é a adoração dos gananciosos, que se baseia na cobiça; outro grupo O adora por medo do castigo — essa é a adoração dos escravos, baseada no temor; mas eu O adoro por amor — essa é a adoração dos nobres, conforme a palavra do Altíssimo: ‘Eles estarão seguros do terror daquele Dia’ (al-Anbiyāʾ, 21:103), e também: ‘Dize: Se vós amais a Deus, segui-me, e Deus vos amará’ (Āl ʿImrān, 3:31).
Aquele que ama a Deus, é por Ele amado; e quem é amado por Deus está entre os que serão salvos. Essa é um grau espiritual velada, à qual ninguém tem acesso senão os purificados.”

Comentário:


O sentido dessas narrações já foi esclarecido nas explicações anteriores. A designação da adoração dos livres, ora como gratidão (shukr), ora como amor (ḥubb), não revela contradição, pois ambas remetem à mesma realidade.

A 'gratidão' consiste em colocar o benefício recebido em seu devido lugar. A verdadeira gratidão, em relação à adoração, é que ela seja dirigida a Deus enquanto Ele é, em Si mesmo, merecedor dela.
Adorar a Deus por gratidão significa adorá-Lo porque Ele é Deus, porque Ele reúne, em Sua essência, todos os atributos de beleza (jamāl) e majestade (jalāl); Ele é belo por essência, e amado por essência. O amor nada mais é do que a inclinação à beleza e a atração por ela.

Portanto, dizer que Ele é adorado “porque é Ele”, ou “porque é belo e amado”, ou “porque é benfeitor e digno de gratidão através da adoração” — todas essas expressões remetem, no fundo, à mesma realidade.

Foi também narrado por uma cadeia de transmissão não-xiita, mas atribuída ao Imam al-Ṣādiq (A.S.), sobre a palavra de Deus “Só a Ti adoramos...” (al-Fātiḥa, 1:5):

“Isto significa: não queremos de Ti senão a Ti mesmo, e não Te adoramos por troca ou substituição, como fazem aqueles que são ignorantes de Ti e afastados de Tua presença.”

Comentário:


Essa narração aponta para o que já foi mencionado: que o verdadeiro sentido da adoração exige presença e sinceridade, e é incompatível com a intenção de obter algo em troca.

No Tuḥaf al-ʿUqūl, também é relatado do Imam al-Ṣādiq (A.S.):

“Quem diz que adora Deus por meio de atributos d'Ele sem percepção, atribui a adoração a algo ausente. E quem diz que adora tanto o atributo quanto o portador do atributo, anula a unicidade divina, pois o atributo é distinto do portador. E quem pretende vincular o portador ao atributo, minimiza o Grande, e não estima a Deus como Ele deve ser estimado...” [fim do trecho citado].

No Maʿānī al-Akhbār, também é narrado do Imam al-Ṣādiq (A.S.), acerca do versículo “Guia-nos à senda reta” (al-Fātiḥa, 1:6):

“Isto significa: orienta-nos à constância no caminho que leva ao Teu amor, que conduz ao Teu Paraíso, e que nos impede de seguir nossas paixões e nos perder, ou de seguir nossas próprias opiniões e perecer.”

E ainda no mesmo livro, do Imam ʿAlī (A.S.), sobre o mesmo versículo:

“Isto significa: Nos preserva a Tua assistência, por meio da qual Te obedecemos no passado, para que continuemos a obedecer-Te da mesma forma no futuro.”

Comentário:


Essas duas narrações apresentam abordagens diferentes para resolver uma objeção ao pedido de “orientação” feito por aquele que já está guiado: A primeira aponta para a multiplicidade dos níveis de hidaya (orientação). A segunda ressalta a unidade do conceito de orientação, interpretando 'o pedido' como uma súplica por 'constância' [na orientação concedida].

No Maʿānī al-Akhbār, é narrado que o Imām ʿAlī (a.s.) disse:

“A ‘senda rea’ neste mundo é aquilo que está aquém do exagero e acima da insuficiência — e, por isso, é reto. Na Outra Vida, trata-se do caminho dos crentes rumo ao Paraíso.”

Ainda no Maʿānī al-Akhbār, ʿAlī (a.s.) também comentou sobre o versículo "À senda dos que agraciaste...":

“Dizei: guia-nos ao caminho daqueles que agraciaste com o êxito em seguir a Tua religião e a Tua obediência — e não àqueles agraciados apenas com riqueza e saúde, pois estes podem ser descrentes ou devassos.”
Ele (a.s.) acrescentou:
“São aqueles mencionados por Deus, ao dizer: ‘E quem obedece a Deus e ao Mensageiro, estará com os que Deus agraciou: os profetas, os verídicos, os mártires e os justos — e quão excelentes companheiros são eles!’” [al-Nisāʾ, 69].

No ʿUyūn Akhbār al-Riḍā, é relatado que o Imām al-Riḍā (a.s.), transmitindo de seus pais, narrou do Príncipe dos Crentes (a.s.), que disse:

“Ouvi o Mensageiro de Deus (s.a.a.s.) dizer: Deus Altíssimo declarou: ‘Dividi a Fātiḥat al-Kitāb entre Mim e Meu servo; metade é Minha, metade é dele, e ao Meu servo será concedido o que pedir.
Quando o servo diz: Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso, Deus diz: ‘Meu servo iniciou com Meu nome; é Meu dever completar para ele seus assuntos e abençoar seus estados.’
Quando diz: Louvado seja Deus, Senhor dos mundos, Deus diz: ‘Meu servo Me louvou e reconheceu que as graças que possui vêm de Mim, e que os males afastados dele o foram por Minha bondade. Testemunhai que acrescentarei às bênçãos deste mundo as do outro, e afastarei dele os infortúnios do outro mundo como afastei os desta vida.’
Quando diz: O Clemente, o Misericordioso, Deus diz: ‘Meu servo testificou que Eu sou o Clemente, o Misericordioso. Testemunhai que reservarei para ele sua porção de Minha misericórdia e seu quinhão do Meu favor.’
Quando diz: Soberano do Dia da Retribuição, Deus diz: ‘Assim como ele reconheceu que Eu sou o Soberano do Dia da Retribuição, facilitarei para ele a prestação de contas naquele Dia, aceitarei suas boas ações e perdoarei seus pecados.’
Quando diz: Só a Ti adoramos, Deus diz: ‘Meu servo falou a verdade; é a Mim que ele adora. Testemunhai que Eu o recompensarei por sua adoração com uma recompensa tal que será invejado por todos que não Me adoraram.’
Quando diz: E só de Ti buscamos auxílio, Deus diz: ‘Meu servo buscou auxílio em Mim e a Mim recorreu. Testemunhai que Eu o ajudarei em seus assuntos, socorrê-lo-ei em suas aflições e tomarei sua mão nos momentos de necessidade.’
E quando diz: Guia-nos pela Senda Reta... até o fim da sura, Deus diz: ‘Isto é para o Meu servo, e ao Meu servo será concedido o que pediu. Já atendi à sua súplica, dei-lhe o que esperava e garanti-lhe segurança daquilo que temia.’”

"Afirmo, conforme narrado por al-Ṣadūq em sua obra Al-‘Ilal, que a narração do Imam al-Ridā (A.S.) conduz a uma interpretação do capítulo al-Fātiḥa no contexto da oração, a qual confirma o que já foi reiterado anteriormente: a sura é uma expressão divina pronunciada por Deus em nome de Seu servo, indicando o que ele deveria dizer em sua adoração, destacando a manifestação de sua submissão e louvor ao Senhor. Trata-se, portanto, de uma sura dedicada à adoração, e nenhuma outra sura no Alcorão se compara a ela. Explico, a seguir, alguns pontos principais:

Primeiro: O capítulo como um todo é um discurso de Deus, no qual Ele fala em nome de Seu servo, orientando-o sobre o que deve dizer quando se volta para a Divindade, posicionando-se como um adorador diante de Seu Senhor.

Segundo: Ele é dividido em duas partes: uma metade dela é dedicada a Deus e a outra metade ao servo.

Terceiro: O capítulo abrange todos os conhecimentos fundamentais do Alcorão de maneira concisa e resumida. O Alcorão, com sua vastidão e profundidade em termos de doutrinas, preceitos e orientações sobre moral, leis, práticas religiosas, comportamento social e governamental, entre outros, pode ser resumido nos temas centrais de monoteísmo (tawhid), profecia (nubuwwah), e a vida após a morte (ma‘ād). Além disso, contém diretrizes sobre como os seres humanos devem agir em relação a suas vidas aqui e no além. E esta sura, como está claro, engloba todos esses ensinamentos em uma linguagem simples e clara, com grande profundidade de significado.

Agora, é essencial que você compare a beleza desta sura, colocada por Deus em cada oração dos muçulmanos, com o que os cristãos recitam em suas orações, especialmente o que é encontrado no Evangelho de Mateus, no capítulo 6, versículos 9 a 13, [na versão árabe] cuja tradução literal é a seguinte:

"Pai nosso, que estais nos céus, santificado seja o Vosso nome; venha o Vosso reino; seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos de mal."

Medite nas implicações dessas palavras, tomadas como ensinamentos celestiais, e no caráter devocional que elas transmitem. Primeiro, reconhece-se que "o Pai" (que é Deus, exaltado seja Seu nome) está nos céus! Em seguida, a oração pede pela santificação do nome do Pai, pela vinda do Seu reino e pelo cumprimento da Sua vontade na terra, como é cumprida no céu. Contudo, quem responderia a essa oração, que mais se assemelha aos slogans de partidos políticos do que a um pedido genuíno de misericórdia divina? Segue-se um pedido por "o pão de cada dia", por um perdão condicionado ao perdão, e por um pedido de livramento da prova e do mal — mas como pedir isso sem entender o papel da prova e do sofrimento na vida humana? Uma vez que, a vida é um teste contínuo, e a verdadeira salvação não seria a ausência de provações, mas a superação delas pela fé.

Este texto ilustra uma crítica que alguns estudiosos ocidentais e seus seguidores fazem, afirmando que o Islã não tem superioridade em relação a outras religiões em termos de ensinamentos, uma vez que todas as religiões de Deus chamam ao monoteísmo, à purificação moral e ao bom comportamento. No entanto, a distinção entre as religiões, segundo tais críticos, reside nas suas respectivas práticas sociais.

Esta análise, no entanto, ignora a profundidade espiritual e a clareza dos ensinamentos islâmicos contidos no Alcorão e na Sunnah (a tradição do Profeta) , que oferecem não apenas uma guia para a vida social, mas um caminho para a salvação eterna, que transcende qualquer proposta apresentada por outras religiões.

Outra Investigação Tradicional (Ḥadīth)

No livro Al-Faqih e na exegese de al-‘Ayāshī, relatado por al-Ṣādiq (A.S.), disse: 'O ṣirāṭ al-mustaqīm (a senda reta) é o Príncipe dos Crentes; Ali (A.S.).'

Na obra Al-Ma‘ānī, também relatado por al-Ṣādiq (A.S.), disse: 'É o caminho para o conhecimento de Deus, sendo dois ṣirāṭ: um na vida mundana e outro na vida eterna. Quanto ao ṣirāṭ deste mundo, é o Imam a quem é obrigatório seguir. Aquele que o reconhece e o segue neste mundo atravessará o ṣirāṭ que é a ponte sobre o inferno na outra vida. E aquele que não o reconhecer, cairá na outra vida e cairá no fogo do inferno.'

Na mesma obra Al-Maʿānī, é narrado pelo Imam al-Sajjād (A.S.): “Não há véu entre Deus e Sua Prova, nem há barreira que O oculte da Sua Prova. Nós somos as portas de Deus, nós somos a senda reta, somos o depósito da sua ciência, nós somos os intérpretes de Sua revelação, somos os pilares de Sua unicidade e somos o lugar do Seu segredo.'

[Nota: Essa narração contém expressões que, se não forem devidamente compreendidas, podem ser mal interpretadas. Por exemplo, a frase "somos o depósito de Sua ciência" significa que Deus nos considerou dignos de receber integralmente Sua ciêncai e nos confiou tal ciência. Da mesma forma, a expressão "somos os pilares de Sua unicidade" deve ser entendida como "somos os firmes defensores da unicidade divina"; caso não desempenhássemos esse papel, a continuidade do verdadeiro monoteísmo entre as pessoas teria desaparecido.]

E de Ibn Shahār Ashūb, relatando o comentário de Waki‘ ibn al-Jarāḥ, sobre al-Thawrī, sobre al-Suddī, sobre Isbāṭ e Mujāhid, sobre Ibn Abbās, na interpretação do versículo: 'Guia-nos à senda reta' (1:6), disse: 'Dizei, ó servos de Deus, orientai-nos para o amor de Muhammad (S.A.A.S.) e de sua família (A.S.).'

Afirma-se que, com esses significados, há outras narrativas, e que esses relatos são um tipo de 'aplicação' (jary), em que se estabelece um exemplo para o versículo. E é importante notar que o termo 'aplicação' (jary) – frequentemente usado neste livro – é um termo técnico retirado das palavras dos Imames da Casa Profética (A.S.).

Na exegese de al-‘Ayāshī, relatado por al-Faḍīl ibn Yassār, disse: 'Perguntei a Abu Ja‘far (A.S.) sobre a seguinte narrativa: "Não há versículo no Alcorão que não tenha um significado exterior e um interior, e não há uma palavra nele que não tenha um limite [quadro, estrutura, área específica], e cada limite tem um ponto de origem." O que significa 'exterior' e 'interior'? Ele respondeu: "Seu exterior é a revelação e seu interior é a interpretação. Algumas coisas já ocorreram e outras ainda não ocorreram, e isso se aplica [ao longo do tempo] como o movimento do sol e da lua. Toda vez que algo novo surge, ocorre."

E nesse contexto, há outras narrativas, e esta é a maneira como os Imames da Casa Profética lidam com as revelações do Alcorão, aplicando-as a situações que podem se ajustar ao seu conteúdo, mesmo que não se refiram diretamente ao evento de sua revelação. O raciocínio sustenta essa aplicação, pois o Alcorão foi revelado como uma orientação para toda a humanidade, guiando-os em matéria de crença, moral e ações. Seus ensinamentos são universais e atemporais, abrangendo questões de ética, legislação em rituais, transações, política e questões sociais, e suas lições permanecem aplicáveis a todos os indivíduos e em todos os períodos da história.'

Portanto, o que foi revelado em relação ao contexto específico de uma pessoa ou evento não limita a aplicação do versículo a esse contexto particular. A mensagem e as leis do Alcorão são gerais e não restritas a uma época ou a um indivíduo específico. Uma virtude ou um vício mencionado, ou as ordens divinas, não são exclusivos a um momento ou a uma pessoa, mas sim aplicáveis a todos que compartilham as qualidades mencionadas. O Alcorão nos ensina que a orientação é para todos que seguem a vontade divina, e como Ele revela em vários versículos: 'Por meio dele (o Alcorão), Deus guia aqueles que seguem Sua vontade' (5:16), e 'Este é um Livro Invencível * A falsidade não se aproxima dele (o Livro), nem pela frente, nem por trás ' (41:42). E ainda, Deus diz: 'Certamente, nós revelamos a Recordação (o Alcorão), e certamente somos seus guardiões' (15:9).

As narrações que aplicam versículos do Alcorão aos Imames (A.S.) ou aos seus inimigos — conhecidas como 'aplicações' (jary) — são numerosas e aparecem em diversos contextos. Elas somam, possivelmente, centenas de relatos. Contudo, após esta observação geral, evitaremos apresentar mais delas neste estudo, a não ser que seja diretamente relevante para o tema em questão.

Compartilhar nas redes

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

13 − 4 =
Powered by MathCaptcha

Compartilhar nas redes