إهدنا الصراط المستقيم ـ ٦. صراط الذين انعمت عليهم غير المغضوب عليهم ولا الضالين ـ ٧.
6. Guia-nos à senda reta, 7. À senda dos que agraciaste, não à dos abominados, nem à dos extraviados.
Explicação
[A escolha das palavras por Deus entre os sinônimos é um dos focos dos exegetas, que buscam descobrir os detalhes implícitos que Ele inseriu em Seu Livro Sagrado. Por exemplo, na linguagem comum embora "rua", "estrada", "boulevard" e "freeway" possam ser considerados caminhos, cada um carrega nuances distintas. Assim, a seleção divina de um termo em vez de outro pode revelar significados mais profundos. A seguir, explora-se as razões da escolha divina de termos específicos e seus significados ocultos. Nesse meio, a apresentação de termos equivalentes em português é uma tentativa de aproximar o assunto à língua portuguesa, embora não se possa garantir uma adaptação plena.
A seguir, será apresentada uma análise aprofundada do conceito de 'senda' e 'senda reta', explorando suas diversas dimensões.]
A 'orientação' pode ser melhor compreendida durante falar sobre termo ṣirāṭ (senda). Ṣirāṭ como ṭarīq (caminho) e sabīl (via, trajeto, vereda), tem significados próximos. Aqui, Deus descreve essa senda como “reta” e a identifica como o caminho trilhado por aqueles que foram distinguidos pela graça divina. O pedido de orientação refere-se, portanto, a esse caminho específico — sendo ele a meta da adoração: ou seja, o servo roga a seu Senhor que sua adoração sincera se estabelece nessa senda.
A explicação disso é a seguinte: Deus, exaltado seja, afirma em Sua Palavra que há um caminho traçado para a humanidade — ou melhor, para toda a criação — pelo qual todos retornam a Ele. Diz o Altíssimo: “Ó ser humano, tu estás esforçando-te laboriosamente rumo ao teu Senhor, e hás de encontrá-Lo” (al-Inshiqāq, 6); e ainda: “E a Ele é o retorno” (at-Taghābun, 3); e: “Acaso não é a Deus que retornam todos os assuntos?” (ash-Shūrā, 53). Há outras passagens semelhantes, todas indicando claramente que todos os seres percorrem um caminho rumo a Deus, exaltado seja.
Além disso, o Alcorão esclarece que esse caminho não é uno e homogêneo, mas se ramifica em duas vias distintas. Diz Ele: “Acaso não vos adverti, ó filhos de Adão, que não adorásseis Satanás — pois ele é para vós um inimigo declarado — e que Me adorásseis? Esse é a senda reta.” (Yā Sīn, 60–61). Assim, há uma senda reta, e outra que se afasta dele, conduzindo ao extravio.
Disse também o Altíssimo: “Em verdade, estou próximo. Respondo ao chamado de quem Me invoca, quando Me invoca. Que, pois, Me respondam e creiam em Mim, para que encontrem o rumo certo.” (al-Baqarah, 186). E disse ainda: “Invocai-Me, e Eu vos atenderei. Aqueles que, por arrogância, se recusam a Me adorar, entrarão no Inferno humilhados.” (Ghāfir, 60). Portanto, fica evidente que a proximidade de Deus com Seus servos se concretiza especialmente através da adoração e da invocação sinceras.
Em contraste, o Altíssimo descreve os descrentes: “Eles serão chamados desde um lugar distante’” (as-Sajdah, 44), o que indica que o destino final dos que não creem — em sua jornada e caminho — é extremamente distante [de Deus, ou de Sua misericórdia].
Fica, portanto, evidente que há dois caminhos em direção a Deus: um caminho próximo — que é o caminho dos crentes — e outro distante — o caminho daqueles que não creem. Essa é uma forma de distinção entre os caminhos.
Há, contudo, uma outra diferenciação: Diz Deus, o Altíssimo: “Aqueles que desmentem Nossos sinais e deles se ensoberbecem, não lhes serão abertas as portas do céu.” (Al-Aʿrāf, 7:40). Ora, se não existir nenhuma rota de acesso que conduza de baixo para cima, a porta perderia seu significado.
Por outro lado, afirma-se: “Aquele sobre quem recai Minha ira, esse certamente caí” (Ṭā Hā, 20:81). Isso indica a existência de um caminho oposto — descendente, de queda e degradação.
Ainda em outra passagem, lê-se: “E quem troca a fé pela incredulidade, com certeza desviou-se do caminho reto.” (Al-Baqarah, 2:108). Nessa formulação, o desvio do caminho reto é identificado com a associação (shirk), evidenciado na expressão: “desviou-se”.
Portanto, os seres humanos se dividem, em sua caminhada, em três grupos distintos:
- Aqueles cujo caminho conduz ao alto — são os que creem nos sinais de Deus e não se ensoberbecem diante da adoração.
- Aqueles cujo caminho leva para baixo — são os que incorreram na ira divina.
- Aqueles que se perderam no caminho, confusos e desorientados — são os desviados.
Esse triplo desdobramento parece ser sugerido nas palavras: “A senda dos que agraciaste — não dos que incorreram na Tua ira, nem dos que se desviaram.” (Al-Fātiḥah, 1:7)
Assim, o ṣirāṭ al-mustaqīm (a senda reta) não pode ser confundido com os dois últimos caminhos mencionados — o dos que incorreram na ira divina e o dos desviados —, sendo, portanto, o caminho do primeiro grupo: os crentes que não se ensoberbecem. Ainda assim, observa-se que mesmo dentro desse caminho há gradações. Como afirma o Altíssimo: “Deus elevará aqueles que creram dentre vós, e aqueles a quem foi concedido o conhecimento, em graus.” (Al-Mujādilah, 58:11)
[Explicações adicionais]
Todo desvio está associado ao politeísmo (shirk), e vice-versa; como já citado: “E quem troca a fé pela incredulidade, com certeza desviou-se do caminho reto.” (Al-Baqarah, 2:108). Em mesma direção, lemos: “Não adorareis o Diabo — ele é para vós um inimigo declarado — e adorai-Me, este é a senda reta. Contudo, ele [o Diabo] desviou uma grande multidão dentre vós.” (Yā Sīn, 36:62)
No Alcorão, o politeísmo (shirk) é considerado uma forma de injustiça, e vice-versa; como no versículo em que o Diabo diz, quando tudo é consumado: “Em verdade, eu reneguei o que vós me associastes anteriormente. Em verdade, os injustos sofrerão doloroso castigo.” (Ibrāhīm, 14:22)
Ademais, o Alcorão também entende a injustiça como forma de desvio, como se vê em: “Aqueles que creram e não misturaram sua fé com injustiça — esses alcançarão a segurança, e serão guiados.” (Al-Anʿām, 6:82)
Assim, evidencia-se que o desvio (ḍalāl), o politeísmo (shirk) e a injustiça (ẓulm) pertencem a uma mesma realidade — interligados, convergentes e inseparáveis em sua substância. É nesse sentido que se afirma que um define o outro, ou é definido por ele. Ademais, é claro que, enquanto conceitos, os três são distintos; contudo, todos se referem a uma única realidade concreta.
Tendo compreendido isso, sabe-se que o Ṣirāṭ al-Mustaqīm (senda reta) — senda dos que não se extraviaram — é um caminho no qual absolutamente não há lugar para o politeísmo, nem para a injustiça, assim como nele não se encontra desvio, de forma alguma. Nem no íntimo do coração, sob a forma de incredulidade ou pensamentos desaprovados por Deus, nem nas ações dos membros e órgãos do corpo, seja por atos de desobediência ou por qualquer deficiência no cumprimento das obrigações.
Esse é o mesmo verdadeiro significado da unicidade divina (tawḥīd), tanto na crença quanto em prática, pois, fora dessas duas dimensões, nada resta além do desvio. Tal compreensão é corroborada pela declaração divina: “Aqueles que creram e não mesclaram sua fé com injustiça, esses terão segurança e estarão bem guiados” (al-Anʿām, 6:82), o que constitui uma confirmação da segurança no caminho e uma promessa de orientação plena. Isso é corroborado por uma regra linguística que diz: o sujeito substantivo (ism al-fāʿil), implica uma ação [contínua ou] futura, assim, reforça-se a ideia.
Isso é uma das características da senda reta.
Deus definiu os agraciados, aqueles aos quais a 'senda reta' é atribuída, ao dizer: “E quem obedece a Deus e ao Mensageiro virá a estar com aqueles que Deus agraciou: os profetas, os verídicos, os mártires e os justos. E que excelentes companheiros são eles!” (an-Nisāʾ, 4:69). Antes dessa passagem, essa fé e a obediência foram descritas assim: “Mas não, por teu Senhor, eles não crerão até que te façam juiz das disputas entre eles e não encontrem em si mesmos desconforto algum quanto ao que decidires, e se submetam totalmente. E, se tivéssemos ordenado a eles: ‘Matem a si mesmos’ ou ‘Saiam de suas casas’, poucos o teriam feito. Mas se tivessem feito o que lhes foi aconselhado, teria sido melhor para eles e mais consolidante” (an-Nisāʾ, 4:65-66).
Assim, esses fiéis [nos últimos versículos] descritos com uma fé forte e perfeitamente firmes em palavra, ação, tanto na aparência quanto a interioridade, em sua obediência a Deus, sem que nenhum deles se desvie nesse aspecto. Ainda assim, esses crentes são considerados acompanhantes — e não plenamente iguais — dos agraciados, conforme a formulação "... com aqueles que Deus agraciou" e a expressão "e que excelentes companheiros são eles!", ao invés de dizer simplesmente "eles são entre daqueles...".
Um paralelo a isso pode ser encontrado no versículo: “E aqueles que creram em Deus e em Seus mensageiros, esses são os verídicos e os mártires perante seu Senhor; terão sua recompensa e sua luz” (al-Ḥadīd, 57:19). Isso indica que os crentes, serão associados aos verídicos e aos mártires no Além, como sugerido pelas expressões "perante seu Senhor" e "terão sua recompensa e sua luz". [A expressão 'perante seu Senhor' indica que esses crentes de fé sólida serão contados, no Além, entre os verídicos e os mártires - o que implica um status privilegiado para os verídicos e os mártires. Outra razão: esses crentes, como prêmio, receberão tanto a recompensa quanto a luz desses grupos elevados. Uma paráfrase mais clara do versículo seria: '...terão a recompensa e a luz deles'; onde o pronome 'deles' refere-se especificamente aos verídicos e mártires. Em termos mais simples, existe uma hierarquia entre esses grupos, sendo uns primários e outros secundários.]
Portanto, "osagraciados", aqueles aos quais a 'senda reta' é atribuída, ocupam uma posição e um grau mais elevados do que outros crentes, mesmo que são os crentes sinceros que purificaram seus corações e ações do desvio, do politeísmo e da injustiça.
A reflexão atenta sobre esses versículos leva à conclusão inequívoca de que esses crentes, cujo estado espiritual é elevado, ainda possuem em si um potencial restante que, se plenamente realizado, os colocaria entre aqueles agraciados por Deus, e serão elevados da condição de companheiros para a posição de integrantes desse grupo agraciado. O fator determinante que estabelece essa hierarquização pode ser um tipo de conhecimento especial sobre Deus, mencionado no versículo: “Deus elevará os que creram dentre vós e os que foram agraciados com o conhecimento, em graus.” (Al-Mujādila, 11). Assim, os que lhes pertencem a senda reta (ṣirāṭ al-mustaqīm), são agraciados com uma bênção de altíssimo valor, superior à própria bênção da fé completa.
Isso, também é outra característica que define a senda reta.
Ademais, embora Deus repita na Sua Palavra os termos “ṣirāṭ” (senda) e “sabīl” (vereda ou qualquer caminho), Ele atribui a Si mesmo apenas uma única senda reta, enquanto menciona múltiplas veredas: “E quanto àqueles que se esforçam por Nossa causa, guiá-los-emos às Nossas veredas” (Al-‘Ankabūt, 69). Do mesmo modo, Deus não atribui a senda reta a nenhum de Seus servos, exceto no versículo: “a senda daqueles a quem agraciaste” (Al-Fātiḥa, 7). Já as veredas são atribuídas a outros, como no versículo: “Dize: este é o meu caminho; chamo a Deus com base em visão clara” (Yūsuf, 108); e também: “a vereda daquele que a Ele se volta” (Luqmān, 15); e: “a vereda dos crentes” (An-Nisā’, 114). Disso compreende-se que a vereda (sabīl) difere, em certo sentido, da senda reta (ṣirāṭ al-mustaqīm): a vereda se diversifica conforme os caminhos espirituais percorridos pelos devotos, enquanto a senda reta é única — como indica o versículo: “Certamente vos veio de Deus uma luz e um Livro evidente, por meio do qual Deus guia aqueles que buscam Seu agrado às veredas da paz, e os conduz, com Sua permissão, das trevas à luz, e os guia à senda reta” (Al-Mā’ida, 16). Aqui, as veredas são mencionadas no plural, e a senda reta no singular. Portanto, a senda reta ou abrange todas essas veredas, consideradas em sua totalidade, ou é o ponto para o qual todas elas convergem, unindo-se e formando a própria senda reta.
Além disso, o versículo “A maioria deles não crê em Deus senão, associando outros a Ele” (Yūsuf, 106) mostra que o politeísmo (shirk) — sendo um desvio — pode coexistir com certo nível de fé, o que indica que a vereda pode abrigar elementos de associação. No entanto, a senda reta não se mistura com o desvio, como está claro na expressão final do capítulo Al-Fātiḥa: “e não dos desviados.”
[O shirk — associação de outros a Deus — classifica-se em dois tipos fundamentais: o explícito, manifestado em práticas como a idolatria, e o oculto, que se insere imperceptivelmente em atitudes ou numa fé incompleta. Embora os fiéis professem sua crença em Deus, muitos deles revelam, em suas ações e concepções, traços desse segundo tipo de shirk, frequentemente de modo inconsciente. Esta modalidade, ainda que represente uma deficiência na fé, difere do shirk explícito em gravidade e qualidade.
Todavia, uma diferença entre a vereda e a senda reta, na expressão corânica, é que a primeira, embora contenha parte da verdade, pode em certos casos estar mesclada com desvios; já a senda reta permanece sempre pura e livre de qualquer desvio.]
[Na continuação, conclui-se que a relação entre a senda reta e as veredas é análoga à relação entre a alma e o corpo: a alma é única, viva e vivificante, e cada membro do corpo, sendo limitado e distinto dos demais, possui vida por participação nela.]
A reflexão atenta sobre esses versículos revela que cada uma dessas veredas (sabil) carrega consigo certa limitação ou particularidade, em contraste com o ṣirāṭ al-mustaqīm (senda reta), que não apenas está isento de qualquer deficiência, mas transcende toda limitação, abarcando em si a orientação plena. Não obstante, cada vereda pode ser entendida como uma manifestação parcial da senda reta — pois dela participa —, ainda que se expresse em formas distintas. A senda reta, por sua vez, se identifica com todas elas, engloba-as e serve como eixo unificador e harmonizador.
Essa concepção é sustentada por diversos versículos, como:
“Adorai-Me, pois este é a senda reta” (Yā Sīn, 36:61),
ou:
“Dize: por certo meu Senhor me guiou para a senda reta, uma religião reta, o credo de Abraão, o monoteísta” (Al-Anʿām, 6:161).
Nesses versículos, tanto o culto a Deus quanto a religião são denominados senda reta (ṣirāṭ al-mustaqīm), elementos comuns a todas as veredas divinas.
A relação entre o ṣirāṭ al-mustaqīm e as diversas veredas de Deus pode ser comparada à relação entre a alma e o corpo humano: o corpo passa por múltiplas fases em sua vida — infância, adolescência, juventude, maturidade, velhice — sendo diferente em cada etapa, porém, a alma que o anima continue sendo a mesma e una.
Da mesma forma, as veredas que conduzem a Deus são manifestações da senda reta, cada uma expressa em formas distintas — como o caminho dos crentes, dos arrependidos ou dos seguidores do Profeta (S.A.A.S.). Cada uma dessas veredas revela um nível ou dimensão do ṣirāṭ al-mustaqīm (senda reta), porém, tendo limitações, podem estar sujeitas a influências externas ou imperfeições. Como mencionado, até mesmo a fé, em certos estágios, pode coexistir com erros ou desvios. No entanto, a essência da senda reta que sustenta o verdadeiro significado desses caminhos — permanece perfeita e livre de qualquer erro.
Assim, as veredas possuem múltiplos graus conforme sua pureza, sua mistura com elementos estranhos, e sua proximidade ou distância do nível de perfeição. No fim, todas estão na senda reta conforme a medida em que preservam sua essência e se mantêm alinhadas à Verdade.
Deus, exaltado seja, expressou essa realidade — a diversidade das veredas em direção a Ele, apesar de todas fazerem parte de Sua senda reta — por meio de parábola quando quis exemplificar a Verdade e a Vaidade:
“Ele fez descer água do céu, e os vales correram segundo sua capacidade, e o fluxo levou uma espuma que flutuava. E, do que acendem no fogo para fundir metais a fim de fazer adornos ou utensílios, também sai uma espuma semelhante. Assim Deus exemplifica a Verdade e a Falsidade: quanto à espuma, é lançada de lado e desaparece; mas o que beneficia as pessoas permanece na terra. Assim Deus propõe parábolas.” (Al-Raʿd, 13:17)
[A primeira parte dessa parábola ilustra a interpretação derivada da comparação entre as veredas e a senda reta. É claro que o versículo é mais amplo que o assunto atual.]
Este versículo mostra que os corações e as inteligências diferem na forma como recebem os conhecimentos e aperfeiçoamentos, embora todos estejam se nutrindo da mesma fonte celeste.
[Assim, a senda reta como uma verdade celestial flui por todas as veredas (caminhos espirituais) e cada vereda contém uma parte dela conforme sua capacidade.]
Esta parábola será analisada em maiores detalhes na exegese do capítulo Al-Raʿd.
Isso também é uma das características do ṣirāṭ al-mustaqīm.
Ao refletir atentamente sobre os atributos da senda reta, apresentados anteriormente, compreende-se que essa senda reta se encontra em posição de supremacia sobre todas as veredas e caminhos que conduzem a Deus, exaltado seja. Isso significa que um caminho só pode verdadeiramente ser considerado um caminho para Deus na medida em que contém, em essência, um aspecto do ṣirāṭ al-mustaqīm. Porém, a senda reta própria, guia de forma absoluta e incondicional para Deus — razão pela qual foi denominado por Ele como "senda reta" [Um caminho amplo, livre de obstáculos, que conduz em linha reta ao destino.]
Com efeito, o termo ṣirāṭ designa o caminho claro e evidente, derivado do verbo saraṭa, que significa “engolir rapidamente”, como se essa senda absorvesse aqueles que nela ingressam, sem permitir que dela se desviem ou sejam repelidos. Já o qualificativo “reto” (mustaqīm) designa aquilo que se mantém firme, que se ergue sobre si mesmo e domina o que está sob sua direção — como alguém que está de pé e tem controle pleno sobre seus próprios atos. [A raiz árabe da palavra 'mustaqim' carrega os significados de retidão, firmeza e estabilidade constante]. Isso implica que o ṣirāṭ al-mustaqīm é o caminho cuja direção e função não sofrem alterações: sua orientação e capacidade de conduzir os que o seguem até o destino final permanecem invariáveis.
Como Deus, exaltado seja, declara:
“Quanto àqueles que crerem em Deus e se apegarem a Ele, Ele os introduzirá em Sua misericórdia e em um favor especial, e os guiará até Si por uma senda reta.” (Al-Nisāʾ, 4:175)
Ou seja, essa orientação é constante e infalível.
E ainda:
“A quem Deus quer guiar, Ele abre o peito ao Islã; mas a quem quer desviar, torna-lhe o peito estreito e constrito, como se ele estivesse subindo ao céu. Assim Deus impõe a impureza àqueles que não creem. E esta é a senda reta de teu Senhor.” (Al-Anʿām, 6:125–126)
Que significa: Sua norma permanente e invariável.
E também:
“Ele disse: Esta é a Minha senda reta. Sobre Meus servos, tu [ó Satanás] não terás autoridade — exceto sobre aqueles que te seguirem dentre os desviados.” (Al-Ḥijr, 15:41–42)
Ou seja: esta é a Minha conduta constante, que não muda — como se lê igualmente em:
“Jamais encontrarás mudança na tradição de Deus, e jamais encontrarás alteração em Sua norma.” (Fāṭir, 35:43)
[Cinco Pontos sobre a Senda Reta]
Fica claro, a partir do que foi exposto sobre o significado do ṣirāṭ al-mustaqīm (a senda reta), alguns pontos fundamentais:
Primeiro: Os caminhos que conduzem a Deus variam em termos de plenitude e deficiência, elevação e facilidade, dependendo de sua proximidade da fonte da verdade e da senda reta — como o Islã, a fé, a adoração, a sinceridade e a submissão reverente. Da mesma forma, os seus opostos — a descrença, o politeísmo, a negação, a tirania e a desobediência — também possuem graus [para inferior]. Diz o Altíssimo: “Para cada um haverá graus segundo o que tiverem feito, e Ele os recompensará plenamente por suas obras, e não serão injustiçados.” (Al-Aḥqāf, 46:19)
Isso é análogo aos conhecimentos divinos que o intelecto humano recebe de Deus, os quais se diversificam de acordo com a disposição interior e assumem variedades de formas, conforme as capacidades receptivas — como se depreende da parábola mencionada por Deus: “Ele fez descer água do céu, e os vales correram segundo sua capacidade...” (Al-Raʿd, 13:17).
Segundo: Assim como a senda reta é superior e domina todas as veredas, também o são aqueles que Deus estabeleceu firmemente nela, a quem confiou a missão de guiar Seus servos e concedeu a posição de liderança. Como disse o Altíssimo: “Quão excelente é a companhia desses!” (An-Nisāʾ, 4:69) E ainda: “Vosso guardião é apenas Deus, Seu Mensageiro e os que creem — aqueles que estabelecem a oração, oferecem a caridade enquanto estão em inclinação.” (Al-Māʾidah, 5:55) — versículo este revelado, segundo narrativas amplamente transmitidas, em referência a ʿAlī ibn Abī Ṭālib. Ele é o primeiro, na nação do Profeta Muhammad, a abrir essa porta. (A explicação completa sobre esse versículo será abordada em seu devido momento.)
Terceiro: O significado da orientação para a senda reta se determina segundo o próprio sentido da senda. [Já que ficou claro que a senda reta se manifesta nas diversas veredas — cada uma contendo dela um grau conforme sua capacidade —, conclui-se que cada orientação rumo a essa senda pode diferir das demais em grau e qualidade].
[Uma análise lexical:]
A orientação, de acordo com os léxicos clássicos (como o Ṣiḥāḥ), significa "mostrar o caminho". Segundo os árabes da região do Ḥijāz, o verbo pode reger dois objetos diretos; outros preferem usá-lo com a preposição ilā (“para”). Diz-se que quando se usa o verbo com dois objetos diretos, a orientação implica uma condução que assegura o alcance do destino ou simplesmente fazer chegar ao destino; enquanto que, com ilā, indica apenas mostrar o caminho. Esse argumento se baseia em versículos como: “Tu não podes guiar quem amas; Deus é quem guia quem quer.” (Al-Qaṣaṣ, 28:56), indicando que a orientação negada aqui não é a de mostrar o caminho, mas a de conduzir verdadeiramente ao objetivo [pois, o Profeta sempre tem a missão de orientar com o significado de 'mostrar o caminho']. Diz também: “E Nós os guiamos a senda reta.” [A frase imita a sintaxe árabe em vez de dizer: ...à senda reta] (An-Nisāʾ, 4:70), e: “Tu, certamente, guias para uma senda reta.” (Ash-Shūrā, 42:52).
Logo, a orientação que conduz ao destino [segundo este ponto da vista] é expressa por meio do verbo com dois objetos diretos.
Contudo, [o argumento não é aceitável, pois,] o versículo acima [que nega a orientação pelo Profeta] não nega a realidade dela em si, mas apenas a forma perfeita [pela qual a orientação frutifica. Ou seja: Ó Muhammad, tu transmites a orientação, porém a decisão final sobre quem será guiado pertence exclusivamente a Deus.]. Além disso, esse argumento é refutado por passagens como a que narra as palavras do crente da família de Faraó: “Ó povo meu! Segui-me; eu vos guiarei ao caminho da retidão.” (Ghāfir, 40:38). [No versículo original em árabe, o verbo 'guiar' ou 'orientar' é utilizado com dois objetos diretos; contudo, seu sentido ali é o de 'indicar o caminho', e não o de 'fazer chegar ao destino'].
A conclusão correta, portanto, é que o significado de “orientação” não varia em razão da estrutura sintática; mesmo quando o verbo rege dois objetos diretos. Esse uso pode ser comparado à construção “entrei a casa”, [na qual a preposição 'em' é omitida, em vez de dizer “entrei em casa”].
Em resumo, 'orientação' (hidāya) consiste em indicar o caminho e apontar o objetivo; ainda, pode-se considerá-la, em certa medida, uma forma de fazer chegar ao destino [pois possibilita seu alcance]. Esse dom provém unicamente de Deus, exaltado seja, e está alinhado à Sua sunnah [os princípios imutáveis pelos quais Ele governa a criação] — a lei dos meios —, mediante a qual Ele institui causas que revelam o destino e permitem ao servo alcançá-lo.
Como Deus declara:
“A quem Deus quer guiar, Ele abre o peito ao Islã.” (Al-Anʿām 6:125)
E ainda:
“logo, suas peles e seus corações se apaziguam, ante a recordação de Deus. Tal é a orientação de Deus, com a qual encaminha quem Lhe apraz.” (Az-Zumar 39:23)
....
Assim como as veredas para Deus são diversas, varia também a forma de orientação conforme cada caminho. Isso fica evidente em:
“E aqueles que se esforçaram por Nós: certamente os guiaremos por Nossas veredas; pois, em verdade, Deus está junto aos bem-feitores.” (Al-ʿAnkabūt 29:69)
Aqui distingue-se quem se esforça “no caminho de Deus” — removendo obstáculos, progride nele — de quem se esforça “por Deus”, isto é, buscando unicamente Sua face. A este último, Deus concede orientação para uma vereda após outra de acordo com sua disposição, e depois o conduz de grau em grau até reservá-lo para Si próprio. [A forma plural da 'veredas' é notável.]
Quarto: Como o ṣirāṭ al-mustaqīm (a senda reta) é um padrão preservado em todas as veredas — ainda que em diferentes graus —, é correto afirmar que Deus guia o homem de um patamar a outro. Deus encaminha o servo a certa vereda e, em seguida, amplia essa orientação, elevando-o a níveis superiores. Esse processo está expresso no versículo: “Guia-nos à senda reta.” Eis que Ele, exaltado seja, relata isso sobre aqueles que já havia guiado por meio da adoração.
Portanto, não se pode dizer que pedir orientação a alguém já guiado é vão, pois o que se busca — a própria orientação — já está presente nele.
Tampouco alguém poderia criticar: “Se nossa religião (o Islã) é a mais completa e abrangente, que as das comunidades anteriores, por que então pedimos a Deus que nos guie à senda dos agraciados dentre elas? A resposta está no fato de que a superioridade de uma religião sobre outra é uma questão, a excelência de seus adeptos é uma outra distinta.
Com efeito, um crente comum da comunidade muçulmana — ainda que siga a mais completa e abrangente das religiões (Islã) — não é necessariamente mais virtuoso que Noé ou Abraão (que a paz de Deus esteja com eles), cujas revelações precederam o Islã. Isso porque a excelência espiritual não reside apenas na adoção de uma determinada religião, mas na profundidade com que ela é vivida, na assimilação de seus valores, e no grau de realização da proximidade divina.
Aquele que alcança o grau de tawḥīd puro — a plena realização da unicidade divina — e vivencia profundamente a vida espiritual, mesmo pertencendo a uma revelação anterior, pode superar em excelência aquele que, embora siga a mais completa das religiões, não assimilou sua essência nem permitiu que a luz da orientação divina se enraizasse em seu coração.
Assim, é plenamente cabível que alguém em um estágio inferior da espiritualidade — mesmo sendo seguidor da religião mais perfeita — peça a Deus que o guie à posição de quem atingiu estágios mais elevados, ainda que este último siga uma religião menos abrangente.
Entre os argumentos mais estranhos apresentados nesse contexto está o de certos exegetas que, ao responder a essa objeção, afirmam: a religião de Deus é única — o Islã [com o significado de submissão a Deus] —, e os fundamentos essenciais do conhecimento religioso, como a crença na unicidade de Deus (tawḥīd), na profecia e na ressurreição, são comuns a todas as revelações. O diferencial da Sharia islâmica está em sua abrangência em relação às práticas e regras jurisprudenciais, pois, elas contemplam todos os aspectos da existência humana. Além disso, sua base está fundada no uso da razão, da exortação e do debate com excelência [que é mais vasta das outras anteriores]. Portanto, embora a religião seja essencialmente a mesma, e seus conhecimentos fundamentais, igualmente partilhados entre as revelações, os que nos precederam e trilharam o caminho de Deus e foram sucedidos nisso, assim, fomos ordenados a olhar para o que eles realizaram e refletir sobre o destino ao qual eles caminharam.
Afirmo que esse raciocínio se apoia em princípios que divergem daqueles que deveriam fundamentar uma exegese rigorosa e bem orientada. Parte-se da suposição de que as realidades espirituais fundamentais são homogêneas, sem distinção de níveis ou graus. Desse modo, o mais elevado dentre os profetas e o mais simples crente seriam considerados equivalentes em termos de existência e perfeição. A diferença entre eles, então, residiria unicamente em posições simbólicas determinadas pela revelação, sem respaldo em uma hierarquia real e substancial do ser; análoga à diferença convencional entre um monarca e um súdito, que decorre de ordenamentos sociais, não tendo raiz, necessariamente, nos seus caráteres.
[Desde que ʿAllāma Ṭabāṭabāʾī conhece tanto os exegetas quanto o contexto intelectual em que eles desenvolveram seus pensamentos, prossegue] Este princípio está ligado a outro, estabelecido nele, que é a concepção da primazia da matéria e a negação de qualquer realidade metafísica superior a ela — exceto, por exceção, a de Deus, com base em prova particular. Essa abordagem levou muitos a duas posturas problemáticas: ou ao abandono da metafísica em favor do empirismo das ciências naturais, ou à renúncia à reflexão profunda sobre o Qur’an, limitando-se à interpretação literal ou à compreensão popular e superficial.
Quinto: A superioridade dos que a senda reta foi atribuída a eles em relação aos demais, assim como a excelência da sua senda em relação às veredas dos outros — reside no conhecimento, e não na ação. Isso porque eles possuem um grau de ciência acerca da posição de seu Senhor que não está disponível aos demais. Já ficou claro anteriormente que a prática perfeita pode existir em alguns dos caminhos que são num nível infrior ao ṣirāṭ al-mustaqīm; logo, o que resta como critério distintivo é o conhecimento.
Quanto à natureza desse conhecimento e sua essência, trataremos disso, se Deus quiser, ao comentar a seguinte passagem: “Ele faz descer a água do céu, e os vales correm conforme sua capacidade” (al-Raʿd, 13:17).
Esse sentido também é sugerido pela palavra do Altíssimo: “Deus elevará os que dentre vós crerem e os que receberam o conhecimento, em graus.” (al-Mujādila, 58:11), bem como pelo versículo: “A Ele ascende a palavra pura, e a boa ação a eleva” (Fāṭir, 35:10). Ou seja, o que ascende a Deus é a palavra pura — que corresponde à crença e ao conhecimento — ao passo que a boa ação atua como suporte, como meio de elevação da palavra, não como algo que, por si só, ascenda a Ele. Um esclarecimento completo virá oportunamente ao tratarmos dessa última passagem.