يا أيها الناس اعبدوا ربكم الذي خلقكم والذين من قبلكم لعلكم تتقون ـ ٢١. الذى جعل لكم الارض فراشا والسماء بناء وأنزل من السماء ماء فأخرج به من الثمرات رزقا لكم فلا تجعلوا لله أندادا وأنتم تعلمون ـ ٢٢. وإن كنتم في ريب مما نزلنا على عبدنا فأتوا بسورة من مثله وادعوا شهدائكم من دون الله إن كنتم صادقين ـ ٢٣. فإن لم تفعلوا ولن تفعلوا فاتقوا النار التي وقودها الناس الحجارة أعدت للكافرين ـ ٢٤. وبشر الذين آمنوا وعملوا الصالحات أن لهم جنات تجري من تحتها الانهار كلما رزقوا منها من ثمرة رزقا قالوا هذا الذي رزقنا من قبل وأتوا به متشابها ولهم فيها ازواج مطهرة وهم فيها خالدون ـ ٢٥.
21. Ó humanos, adorai ao vosso Senhor, Que vos criou, bem como aos vossos antepassados, quiçá assim tornar-vos-íeis piedosos. 22. Ele fez-vos da terra um leito, e do céu um teto, e envia do céu a água, com a qual faz brotar os frutos para o vosso sustento. Não atribuais rivais a Allah, conscientemente. 23. E se tendes dúvidas a respeito do que revelamos ao Nosso servo
(Mohammad), componde uma Surata semelhante a ele, e apresentai as vossas testemunhas, independentemente de Allah, se estiverdes certos. 24. Porém, se não o fizerdes – e certamente não podereis fazê-lo –, temei, então, o fogo infernal cujo combustível serão os homens e as pedras; fogo que está preparado para os incrédulos. 25. Anuncia (ó Mohammad) aos crentes que praticam o bem, que obterão jardins abaixo dos quais correm os rios. Toda vez que forem agraciados com os seus frutos, dirão: Eis aqui o que nos fora concedido antes! Porém, só o serão (os frutos) na aparência. Ali terão pares imaculados e ali morarão eternamente.
Interpretação
A palavra do Altíssimo: “Ó humanidade, adorai vosso Senhor…”
Após o Altíssimo ter exposto a condição das três categorias de pessoas — os piedosos, os incrédulos e os hipócritas — esclarecendo que os piedosos estão orientados por seu Senhor e que o Alcorão é uma orientação para eles; que os incrédulos têm seus corações, ouvidos e olhos selados, e que os hipócritas estão enfermos, sendo que Deus aumentou-lhes a enfermidade, tornando-os surdos, mudos e cegos — como se apresenta ao longo de dezenove versículos — Ele conclama, a partir disso, toda a humanidade à adoração exclusiva d’Ele, incentivando-os a se unirem aos piedosos, em vez de seguirem os caminhos dos incrédulos e hipócritas. Tal exortação se manifesta nos cinco versículos que seguem até a expressão: "e neles permanecerão" [v. 25].
Esse contexto sugere que a expressão “para que possais alcançar a piedade” [v. 21], está ligada diretamente ao comando “adorai”, e não ao trecho “que vos criou”, ainda que, em termos de significado, ambas as interpretações sejam plausíveis. [... adorai ao vosso Senhor ... quiçá assim tornar-vos-íeis piedosos]
No versículo: “Não atribuais semelhantes a Deus, enquanto sabeis”, a palavra (ʾandād) é o plural de “nidd”, que significa “semelhantes”, "igual" ou "par".
A ausência de qualquer restrição específica ao termo “enquanto sabeis”, inserido como uma oração circunstancial à frase “não atribuais semelhantes”, reforça de modo veemente a proibição. Isto é, ainda que o ser humano possua certo grau de conhecimento — qualquer que seja —, não lhe é lícito atribuir semelhantes a Deus, especialmente considerando que foi Ele quem criou tanto as pessoas de agora quanto as que vieram antes delas, organizando o sistema cósmico que sustenta sua provisão e existência.
No versículo: “Trazei, então, uma sura semelhante a esta” [v. 23], trata-se de um desafio com o intuito de demonstrar o caráter inimitável do Alcorão — evidência de que ele é um Livro revelado por Deus, sobre o qual não há dúvida. Trata-se de um milagre eterno, cuja inimitabilidade se perpetua ao longo das épocas. Este desafio aparece reiteradamente na palavra divina, como em:
“Dize: Ainda que os seres humanos e os gênios se reunissem para produzir algo semelhante a este Alcorão, não conseguiriam fazê-lo, mesmo que fossem auxiliadores uns dos outros” (Al-Isrā', 17:88);
e também:
“Ou dizem: ‘Ele [o Profeta] o forjou’? Dize: Trazei dez capítulos semelhantes a ele, forjadas, e chamai a quem puderdes além de Deus, se sois verídicos” (Hūd, 11:13).
Dessa forma, o pronome em “semelhante a ele” refere-se ao trecho “o que fizemos descer”, ou seja, ao próprio Alcorão. Assim, o desafio consiste em igualar o Alcorão em sua essência, em seu estilo singular e eloquência incomparável.
Também é possível que o pronome retome o termo “Nosso servo”, de modo que o milagre esteja no fato de que quem transmitiu o Alcorão foi um homem iletrado, que não aprendeu com mestre algum nem recebeu tais conhecimentos refinados e profundos de outrem. Essa leitura se alinha com o versículo:
“Dize: Se Deus quisesse, eu não o teria recitado para vós, nem Ele vo-lo teria dado a conhecer. Pois vivi entre vós uma vida inteira antes disso. Não compreendeis?” (Yūnus, 10:16). Ambos os entendimentos são mencionados em relatos interpretativos tradicionais.
Por fim, é importante notar que esse versículo, como outros de natureza semelhante, demonstra que o milagre do Alcorão se evidencia mesmo no menor dos capítulos, como Al-Kawthar ou Al-‘Asr. A suposição de que o pronome “semelhante a ele” poderia se referir a um capítulo específica, como Al-Baqarah ou Yūnus, não se sustenta segundo uma leitura coerente com os padrões linguísticos. Afinal, quem acusa o Alcorão de ser uma invenção, o faz em relação ao todo, e não a uma parte isolada. Seria, portanto, ilógico desafiar tal acusação com a proposta de produzir algo equivalente apenas a um capítulo específico, como Al-Baqarah, em vez de considerar qualquer capítulo, mesmo das mais breves — o que tornaria o desafio mais incisivo e mais eficaz em sua finalidade retórica e teológica.