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Exegese Al-Mizan – Capítulo Al-Bácara (2), Versículos 1-5
Capítulo Al-Baqara; de duzentos e oitenta e seis versículos

بسم الله الرحمن الرحيم الم ـ ١. ذلك الكتاب لا ريب فيه هدى للمتقين ـ ٢. الذين يؤمنون بالغيب ويقيمون الصلاة ومما رزقناهم ينفقون ـ ٣. والذين يؤمنون بما انزل اليك وما انزل من قبلك وبالاخرة هم يوقنون ـ ٤. أولئك هدي من ربهم وأولئك هم المفلحون ـ ٥.

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

1. Alef, Lam, Mim .  2. Eis o Livro que é indubitavelmente a orientação dos tementes a Allah;  3. Que crêem no desconhecido, praticam a oração e gastam daquilo com que os agraciamos;  4. Que crêem no que te foi revelado (ó Mohammad), no que foi revelado antes de ti e estão cientes da outra vida.  5. Estes possuem a orientação do seu Senhor e estes serão os bem-aventurados.

Explicação

Uma vez que este capítulo foi revelado em partes, ao longo do tempo, não possui um único objetivo temático unificador. No entanto, a maior parte de seu conteúdo converge para uma finalidade principal: afirmar que a adoração verdadeira a Deus requer que o servo creia em tudo o que Ele revelou por meio de Seus mensageiros, sem estabelecer distinções entre uma revelação e outra, ou entre um mensageiro e outro. Em seguida, a sura passa a censurar os descrentes, os hipócritas e os seguidores das Escrituras anteriores por introduzirem divisões arbitrárias na religião de Deus e diferenciarem entre Seus mensageiros. Após isso, ela se encaminha para a apresentação de diversos preceitos legais, como a mudança da direção da oração (Qibla), as normas do ḥajj, as regras de herança, o jejum, entre outros.

(1) الم

Sobre a expressão "Alif, Lām, Mīm" e os seus semelhantes, analisaremos, com a ajuda de Deus, no início da interpretação do capítulo al-Shūrā, assim, sobre o significado da orientação proporcionada pelo Alcorão, e a razão pela qual ele (o Alcorão) é descrito como "Livro".

(2) ذلك الكتاب لا ريب فيه هدى للمتقين

Quanto à afirmação: '[Este é] um guia para os piedosos, que creem…', entende-se que os piedosos (al-muttaqūn) são, neste contexto, os próprios crentes. A piedade aqui não deve ser vista como uma qualidade exclusiva de um grupo específico entre os fiéis — como se fosse um estágio avançado da fé, à semelhança da excelência espiritual (iḥsān), da humildade devocional (ikhbāt) ou da sinceridade absoluta (ikhlāṣ). Pelo contrário, trata-se de uma característica que abrange todos os níveis de fé, sempre que esta fé se manifeste de forma autêntica e comprometida. Isso se evidencia no fato de que Deus não restringe a descrição dos piedosos a uma categoria particular de crentes, independentemente das diferentes gradações espirituais entre eles.

Nos dezenove versículos em que Deus descreve os crentes, os descrentes e os hipócritas, Ele apresenta cinco atributos fundamentais que caracterizam os piedosos: fé no Invisível, prática da oração (ṣalāh), caridade com os bens que Deus concedeu, fé nas revelações aos profetas, e certeza quanto à Vida Futura. Em seguida, descreve-os como estando sobre orientação de seu Senhor, indicando que essas qualidades são resultadas de uma orientação divina anterior.

Portanto, quando o Alcorão é qualificado como “guia para os piedosos”, indica uma segunda forma de orientação, posterior à primeira. Com isso, compreendemos que há dois níveis de orientação: uma que conduz o indivíduo à piedade, e outra que é concedida a ele após alcançar essa condição. Assim, os piedosos estão cercados por duas orientações.

Dessa forma, estabelece-se uma correspondência apropriada entre os piedosos e os incrédulos e hipócritas, visto que Deus, exaltado seja, apresenta estes últimos em uma condição de duplo desvio e cegueira: um primeiro desvio, que é a causa originária de suas condutas corrompidas, como a incredulidade e a hipocrisia, e um segundo desvio que reforça o primeiro, manifestando-se como consequência da consolidação da descrença e da hipocrisia.

Assim, por exemplo, Deus afirma a respeito dos incrédulos: "Deus selou os seus corações e os seus ouvidos, e sobre os seus olhos há um véu" (Al-Baqarah, 2:7). O selo é atribuído a Deus, enquanto o véu é atribuído a eles próprios. Do mesmo modo, a respeito dos hipócritas, diz-se: "Em seus corações há doença, e Deus aumentou essa doença" (Al-Baqarah, 2:10). A primeira enfermidade é atribuída a eles, e o agravamento dela a Deus. Isso é coerente com o que se depreende de versículos como: "Com ele [o Alcorão], Ele desencaminha muitos, e com ele guia muitos; mas não desencaminha senão os perversos" (Al-Baqarah, 2:26), e também: "Quando eles se desviaram, Deus desviou os seus corações" (As-Saff, 61:5).

Em síntese, os piedosos se encontram entre duas formas de orientação, ao passo que os incrédulos e hipócritas estão entre dois níveis de desvio.

A segunda forma de orientação, no caso dos piedosos, é proporcionada pelo Alcorão; já a primeira ocorre antes dele, como resultado da pureza da natureza original (fitra). Pois, quando essa natureza permanece íntegra, ela inevitavelmente desperta para a consciência de sua carência e de sua necessidade por algo além de si mesma. Da mesma forma, reconhece que tudo o que pertence à esfera sensível, à imaginação ou ao intelecto também depende de algo externo, o qual representa o princípio e o fim, a quem tudo retorna. Assim, a fitra acredita e se submete, de forma espontânea, à existência de um Ser que está além da percepção sensorial, de quem tudo emana e para quem tudo retorna.

Este reconhecimento implica a certeza de que, assim como Deus não negligencia nenhum detalhe da criação, tampouco negligenciaria a orientação da humanidade para o que a salva das ruínas morais e práticas. Essa convicção constitui a essência da crença na unicidade divina, na profecia e no juízo final — os fundamentos da religião. Tal fé exige, por consequência, a submissão à soberania divina, bem como o empenho de tudo o que o ser humano possui — riqueza, prestígio, conhecimento e virtude — na promoção e difusão dessa Verdade. Esses dois compromissos se manifestam, respectivamente, na oração (ṣalāt) e na caridade (infāq).

Portanto, compreende-se que aquilo que Deus, exaltado seja, descreveu como atributos dos justos é precisamente o que a natureza humana (fiṭra), quando preservada em sua integridade, também atesta. Ele, exaltado seja, prometeu ainda conceder a eles uma nova benção que denominou orientação (hidāyah). Assim, suas ações purificadas situam-se entre duas orientações, como já foi expressado: uma orientação anterior e outra posterior. Entre essas duas, realiza-se a verdadeira crença e a retidão da conduta.

O fato de essa segunda orientação divina decorrer da primeira é confirmado por diversas passagens do Alcorão, como em Sua palavra:

"Deus firma os que creem com a palavra firme, na vida terrena e na outra" (Ibrahim, 14:27);
e ainda: "Ó vós que credes! Temei a Deus e crede em Seu Mensageiro, e Ele vos concederá dupla porção de Sua misericórdia e vos dará uma luz com a qual caminhareis" (Al-Hadid, 57:28);
ou também: "Se ajudardes a Deus, Ele vos ajudará e firmará os vossos passos" (Muhammad, 47:7);
e: "Deus não guia o povo injusto" (Aṣ-Ṣaff, 61:7);
bem como: "Deus não guia o povo perverso" (Aṣ-Ṣaff, 61:5); entre outras.

A condição dos incrédulos e hipócritas quanto ao desvio é análoga à dos piedosos quanto à orientação, como será explicado, se Deus quiser.

O Alcorão Sagrado alude a uma outra forma de vida do ser humano, oculta e latente sob a esta vida terrena. É essa vida interior que sustenta o ser humano tanto neste mundo quanto após a morte e na ressurreição. Deus diz:

"Acaso aquele que estava morto e o fizemos reviver, a quem concedemos uma luz com a qual caminha entre as pessoas, pode ser comparado àquele que está nas trevas, das quais não pode sair?" (Al-Anʿām, 6:122).
[O versículo, em toda a sua extensão, está falando, sobre indivíduos que possuem vida biológica. Portanto, a ordem para 'revivê-lo' indica uma dimensão transcendente à mera existência biológica - uma vida espiritual acompanhada com a luz, distinta da vida orgânica, da qual os incrédulos, mergulhados em trevas, estão privados.]

Este versículo será abordado mais adiante, se Deus quiser.

(3) الذين يؤمنون بالغيب

Quanto à expressão "(Que crêem...)", ela indica o firme enraizamento da crença no coração — termo derivado de 'segurança' (amn) — como se o crente atribuísse à sua crença uma imunidade contra a dúvida e a incerteza - estas verdadeiras enfermidades da fé.

Como já foi mencionado, a fé é um conceito que comporta diferentes graus: no nível mais básico, ela se limita ao simples reconhecimento do objeto da crença, produzindo efeitos limitados; em níveis mais avançados, se intensifica a ponto de incluir algumas de suas exigências; e, em seu grau mais elevado, abrange plenamente todas as consequências da fé.

Disso se conclui que os crentes se distribuem em graus ascendentes, conforme os níveis de sua fé.

(3) الذين يؤمنون بالغيب

A expressão do Altíssimo: “[que creem] no Invisível” refere-se àquilo que está em oposição ao mundo visível (shahāda) — ou seja, àquilo que escapa à percepção sensorial. Isso inclui Deus, exaltado seja, e os Seus grandes sinais que estão além de nossos sentidos, entre os quais está a revelação (waḥy). Esta última é mencionada especificamente no versículo seguinte: “e [creem] no que foi revelado a ti e no que foi revelado antes de ti” (Al-Bácara, 4). Assim, quando a fé na revelação e a certeza quanto ao Além se separam da fé no Invisível, isto refere-se particularmente à crença em Deus — completando, juntamente, a tríade fundamental dos princípios da fé [Deus, Profecia e Ressurreição].

O Alcorão, por sua vez, insiste em que não se limite o conhecimento ao domínio sensível, exortando à adesão à razão sã e ao discernimento profundo.

Quanto à Sua palavra: “e estão convictos da Última Vida”, o uso do termo “convictos/ certeza” (yuqinūn) no lugar de simplesmente “creem” revela um propósito específico, indicando que a piedade (taqwā) só se realiza plenamente mediante a certeza firme em relação ao Dia do Juízo, uma certeza que é incompatível com o esquecimento desse Dia. A mera crença, por si só, não é suficiente, pois o ser humano pode crer em algo e, ainda assim, negligenciar algumas de suas implicações, vindo a agir de modo incoerente com sua crença. Mas aquele que tem plena consciência e certeza de que será julgado, até mesmo pelos menores de seus atos, evita os grandes pecados e se afasta das proibições de Deus por completo. O Altíssimo diz: “Não sigas a paixão, pois ela te desviará do caminho de Deus. Em verdade, aqueles que se desviam do caminho de Deus sofrerão severo castigo por haverem se esquecido do Dia da Prestação de Contas” (Ṣād, 26). Isso demonstra que o desvio do caminho de Deus ocorre devido ao esquecimento do Dia do Juízo — e que a lembrança e a certeza sobre ele são o que gera a verdadeira piedade.

(5) أولئك هدي من ربهم وأولئك هم المفلحون 

Da palavra de Deus: “Estes possuem a orientação do seu Senhor”, entende-se que toda orientação provém de Deus, e não é atribuída a outrem senão de modo metafórico, como será explicado.

Em outro versículo, quando Deus descreve esses crentes como guiados, recorda-se o que Ele diz sobre a natureza dessa orientação: “A quem Deus quer guiar, Ele abre o seu peito ao Islã” (Al-An‘ām, 125). A "abertura do peito" significa amplidão interior, que afasta toda forma de estreiteza e egoísmo. Ele também afirma: “Aqueles que forem preservados da avareza de si mesmos — esses são os bem-aventurados” (Al-Ḥashr, 9). Por isso, ao declarar: “Estes possuem a orientação do seu Senhor”, [em uma harmonia maravilhosa,] Ele logo em seguida acrescenta: “e esses são os bem-aventurados” — estabelecendo, assim, a ligação entre a orientação divina, a amplidão interior e a verdadeira bem-aventurança.

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