Doutrina da Crença no Imamato “Al Imamah”
O Imamato é, para nós, uma das crenças fundamentais do Islam, e a fé dos homens não está completa sem ele. É errado imitar os nossos pais ou professores neste assunto, por maior que seja o respeito que por eles nutrimos. Devemos antes optar por abordar a questão de uma forma racional. Se um homem não acredita nesta crença como um pilar do Islamismo, deve, mesmo assim, sobre ela se debruçar, em prol da consciência.
Uma vez que não recebemos orientação religiosa diretamente de Deus, devemos seguir a opinião daqueles em quem confiamos e que achamos merecedores da graça divina. Para nós, os membros da família do Profeta Mohammad satisfazem plenamente estes requisitos.
Tal como acreditamos na missão divina dos Profetas, também acre- ditamos na necessidade de seguir um Imam (ou líder espiritual) escolhido por Deus. É importante para a manutenção da fé que esteja sempre pre- sente um Imam para representar o Profeta, de forma a guiar os homens no caminho da retidão, para uma vida de bondade e prosperidade. Ele deve ser alguém com a mais alta autoridade e respeitado por todos, para que possa espalhar a justiça e eliminar o ódio e a opressão. O Imamato é assim uma continuação da missão do Profeta.
E o Imam recebe a sua autoridade diretamente de Deus, através do Profeta ou do Imam precedente; não pode ser escolhido por vontade popular nem deve ser por esta contestado ou deposto.
É relatado que “Aquele que morre sem conhecer o Imam do seu tempo, morre como se estivesse no tempo da ignorância”
Acreditamos que há sempre um Imam para cada tempo, mesmo que dele não nos apercebamos, e que não faz diferença se os seres humanos o aceitem ou não, ou que ele nos esteja invisível. Tal como o Profeta se refugiava numa caverna entre as montanhas, o Imam também pode estar oculto. Diz o Senhor:
“... e cada povo tem o seu guia.” (C.13 – V.7)
“... e não houve povo algum que não tivesse tido um admoestador.”
(C.35 – V.24)
24. Doutrina da Crença na Infalibilidade do Imam
Acreditamos que, tal como com o Profeta, o Imam é infalível e in- capaz de errar ou cometer algum mal, do momento do seu nascimento até à sua morte. Os Imames são para nós os gerentes da fé e ocupam uma posição semelhante à do Profeta. Um ditado árabe diz: “Para o Senhor, não é impossível unir todo o mundo através de um só homem”.
Doutrina dos Atributos do Imam e do Conhecimento dos Imames
É nossa convicção que o Imam, tal como o Profeta, destaca-se pela sua excelência entre todos os homens, e os supera em bravura, generosidade, castidade, amor à verdade, justiça, prudência, sabedoria e moral. Ele herda estes conhecimentos do Profeta ou do Imam que lhe antecedeu. Para qualquer questão que seja suscitada, ele sabe a resposta por inspiração divina, e, se ele se debruça sobre algum assunto, obterá o mais perfeito conhecimento dessa matéria, porque os Imames não recebem a sua sabedoria somente do raciocínio e do conhecimento humano, embora a sua sabedoria aumente com a experiência de vida. O Profeta dizia:
“Senhor, aumenta o meu conhecimento e sabedoria!”
Investigações no domínio da psicologia indicam que qualquer homem, ao longo da vida, tem um ou dois momentos em que é capaz de compre- ender certas situações usando apenas a sua intuição. Acreditamos que se trata de uma inspiração do próprio Deus, e este poder de intuição varia entre os homens, de acordo com as suas capacidades. Em certos momentos, a mente humana apreende certos fatos sem sequer usar o raciocínio ou orientação de outra pessoa. Apercebemo-nos disso várias vezes ao longo das nossas vidas.
É possível então que um ser humano possa alcançar tal sabedoria e conhecimento, tal como mencionam filósofos antigos e contemporâneos. É nossa crença que os Imames atingiram tal perfeição, através da vontade de Deus. Assim, o Imam pode se aperceber e compreender qualquer assunto ou matéria, em qualquer tempo e espaço, somente pela capacidade que lhe é inspirada por Deus. Se ele quiser saber mais sobre alguma matéria, esta lhe é revelada na mente como se olhasse para um espelho polido. Pelo que sabemos da história dos Imames, estes não foram treinados por ninguém, desde o seu nascimento até à idade adulta. E, no entanto, eles excediam qualquer homem em conhecimento, e eram capazes de dar uma resposta para todas as questões que lhes eram colocadas, imediatamente e jamais disseram: “Não sei”.
O Imam Assadeq (A.S.) disse:
“Deus jamais deixará alguém como seu representante na terra cujo quando perguntado ele responde não sei.”
Em comparação, nunca ouvimos falar de nenhum grande sábio do Islam que não tivesse recebido uma longa e apurada educação, ou de que este nunca tivesse tido dúvidas sobre nenhuma matéria, o que é uma condição da sua natureza humana.
Doutrina do Dever de Obediência ao Imam
Acreditamos que os Imames recebem a sua autoridade de Deus, que nos pede que os obedeçamos de acordo com o versículo Alcorânico:
“Ó fiéis, obedecei a Deus, ao Mensageiro e às autoridades, dentre vós! Se disputardes sobre qualquer questão, recorrei a Deus e ao Mensageiro, se crerdes em Deus e no Dia do Juízo Final, porque isso vos será preferível e de melhor alvitre.” (C.4 – V.59)
Eles são um testemunho para a humanidade, portas para o caminho que conduz a Deus, guias para o Senhor e guardiões do Seu saber, intérpretes da Sua vontade. São os guardiões da paz entre os homens. Dizia o Profeta:
“O exemplo deles (Ahlul Bait) na minha nação é igual a Arca de Noé: quem nela embarcar será salvo, e quem dela se desviar, se afogará”.
De acordo com o Alcorão, os Imames são:
“E dizem: O Clemente teve um filho! Glorificado seja! Qual! São apenas servos veneráveis, esses a quem chamam de filhos, Que jamais se anteci- pam a Ele no falar, e que agem sob o Seu comando”. (C.21 – V.26 e 27)
“... porque Deus só deseja afastar de vós a abominação, ó Ahlul Bait, bem como purificar-vos integralmente”. (C.33 – V.33)
São aqueles que Deus manteve impolutos. É nossa crença que os seus manda- mentos são ordens diretas do Senhor, e que respeitá-los e amá-los é também respeitar e amar a Deus. É um pecado negar a sua autoridade, porque equivale a negar a autoridade de Deus. É dever de todos os homens prestar obediência aos Imames, seguir os seus mandamentos e opiniões, que são puros e corretos, e estão acima do conhecimento de qualquer outro homem. Como com a Arca de Noé, quem embarcar é salvo, e os que ficam para trás, sucumbem a um mar de dúvidas, indecisão e falta de rumo.
Não pretendemos aqui provar que os Imames são os verdadeiros khulafa17, ma- téria que ocasiona tantas discussões estéreis, mas apenas mencionar a sua importância no caminho do conhecimento e para a compreensão da mensagem do Profeta.
Os Imames são, para nós, o caminho para o Islam, e todos os que escolhem outras vias para compreender a fé, nunca poderão estar plenamente certos sobre os seus deveres e atitudes para com Deus. Porque há muitas divergências de opinião entre os muçulmanos quanto ao conhecimento da fé, e é certo que essas divisões existirão sempre, mas não devemos seguir essas opiniões de forma cega e inconsciente. É necessário avaliar cada uma dessas interpretações diferentes até chegar a uma conclusão sobre a verdade e sobre os mandamentos de Deus. Não devemos nos sentir obrigados a seguir determinada teoria, e devemos chegar a uma conclusão de forma racional.
O uso da razão implica que aqui mencionemos a família do Profeta. De- vemos nos lembrar do seu legado para a doutrina e a lei islâmica, tal como nos foram reveladas ao Profeta, que afirmou:
“Tenho, entre vós, duas coisas que me são muito preciosas: o Li- vro de Deus e meus Ahlul Bait. Se se mantiverem próximos de cada um deles, jamais se desviarão do caminho da retidão depois de mim. O Livro de Deus é, contudo, mais sagrado, uma corda içada para o Céu, tal como são meus Ahlul Bait. Lembrem-se, estas duas coisas nunca estarão se- paradas uma da outra, até que nos reencontremos, um dia, no Paraíso”.
17. Califas.
Esta é uma tradição narrada tanto por Sunitas como Xiitas. Se nos debruçarmos sobre este assunto com cuidado, ficaremos convencidos pelo bom senso da afirmação. O Profeta dizia que tanto oAlcorão como a sua descendência estavam intrinsecamente ligados, e eram uma só coisa; as duas não deveriam nunca ser dissociadas. Escolher entre uma delas apenas é afastar-se da Verdade. São como a Arca de Noé para a hu- manidade, e quem nela não se refugiar, arrisca-se a se afogar na perdição.
Esta tradição não nos diz que é apenas necessário amar a Casa do Profeta, sem seguir as suas orientações - isso é uma interpretação errônea da tradição árabe que nos chegou.
Doutrina do Amor à Ahlul Bait (A.S.)
Deus disse no Alcorão Sagrado:
“... dize-lhes: Não vos exijo recompensa alguma por isto, senão o amor aos vossos parentes...” (C.42 – V.23)
Acreditamos que, para além de prestar obediência à família do Profeta, é necessário que cada muçulmano também os ame e deles se lembre, tal como nos pede Deus, neste dito legado pelo Profeta:
“O amor (pelos Ahlul Bait) é um sinal de crença e devoção, e mostrar inimizade para com eles, um sinal de descrença. Quem os ama, também ama o Deus e o Seu Mensageiro. Quem os hostilizar, mostra o seu desprezo por Deus e pelo Seu Mensageiro”.
Devemos, pois, amá-los, porque a afeição para com eles é um dos deveres do Islam, que não podem ser disputados. Todas as seitas islâmicas aceitam este fato, à exceção de alguns poucos que detestam a família do Profeta18 e que são lembrados como descrentes.
Quem se recusar a aceitar um dos pilares básicos do Islam, como a oração ou a esmola, nega o Profeta, mesmo que afirme crer na fé e no Mensageiro de Deus (recitando, em árabe, “Ashhadu an la ilaha illalah, ashadu ann Muham- madun Rasul Allah”). A inimizade para com a família do Profeta equivale também a rejeitar Deus e o Seu Mensageiro.
Deus pede-nos que amemos os Imames, porque estes assim o mereceram, e pelo seu elevado grau de obediência aos mandamentos do Senhor, pela sua pureza de fé e ausência de pecado.
Custa acreditar que Deus nos dissesse para amar ou prestar devoção a alguém que não fosse merecedor do seu afeto. Toda a humanidade é igual aos olhos do Senhor, e ninguém tem um monopólio da amizade ou proximidade com Deus. Mas os mais nobres aos olhos de Deus são os que seguem os seus mandamentos. Assim, se Ele nos pede que prestemos devoção a alguém, é porque esse alguém excede em virtude os outros homens, ou não seria digno de ser amado. Ele disse no Alcorão Sagrado:
“Ó humanos, em verdade, Nós vos criamos de macho e fêmea e vos divi- dimos em povos e tribos, para reconhecerdes uns aos outros. Sabei que o mais honrado, dentre vós, ante Deus, é o mais temente. Sabei que Deus é Sapientíssimo e está bem inteirado ” (C.49 – V.13)
18. Aos que se deu o nome pouco edificante de Nawasib.
Doutrina da Crença nos Imames
Não pretendemos aqui exagerar sobre o papel dos Imames, como fazem algumas seitas islâmicas, pois acreditamos que foram seres humanos iguais a nós próprios, sujeitos às mesmas leis - compensados se praticassem o bem, castigados se pecadores. Deus disse no Alcorão Sagrado:
“A despeito de carecerem de conhecimento a tal respeito; o mesmo tendo acontecido com seus antepassados. É uma blasfêmia o que proferem as suas bocas; não dizem senão mentiras!”. (C.18 – V.5)
No entanto, são servos honrados do Senhor, que lhes concedeu grande dignidade e autoridade, e virtudes de excelência, como o conhecimento, a bon- dade, a bravura, generosidade. Ninguém lhes excede em comportamento ético e moral. Assim, merecem ser Imames, líderes, guias para a humanidade nos assuntos em que esta necessita de orientação: os deveres religiosos, a justiça, a legislação, assim como o estudo do Alcorão Sagrado.
“Se for relatado algo sobre nós e é algo natural entre as criaturas só que talvez vocês não o compreendam, então não o neguem, e o aceitem por ele ter vindo de nós, e se algo for relatado sobre nós cujo jamais as criaturas ou a humanidade compreenderão, então o recuse”.
Doutrina da Crença do Imamato como Vontade Divina
Acreditamos que o Imames, tal como os Profetas, são designados por Deus, através do seu Mensageiro, ou de um outro Imam. Neste ponto de vista, a sua importância equipara-se à dos Profetas.
É errado contestar alguém que Deus nos enviou como guia e líder para os homens. Tamanha tarefa pode ser apenas ordenada por Deus e não pelos homens. Acreditamos que o Profeta Mohammad mencionou claramente quem lhe sucederia, e que escolheu o seu primo, Ali Ibn Talib, conhecido como o Príncipe dos Fiéis, como guardião da escritura e Imam para os homens. E que este pediu a todos que estavam presentes a respeitar esta decisão, de que o Imam Ali lhe sucederia, dizendo:
“... Ó fiéis! Para todos aqueles que me vêem como seu líder (mawla), e obedecem à minha autoridade, que vejam Ali como seu líder também. Ó meu Deus, sê amigo para com os amigos de Ali; ajuda quem o ajuda, e afasta quem o hostiliza, e que a verdade esteja sempre com ele”.
A primeira vez em que o Profeta (S.A.A.S.) manifestou o seu desejo em relação à sucessão dos Imames (A.S.) foi durante uma reunião de família e de pessoas mais chegadas, em que disse:
“Este (Ali) é meu irmão, herdeiro (Wasi) e Sucessor (Khalifa). Devem, por isso, escutá-lo e prestar-lhe obediência”.
Nessa época, o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) disse também:
“Ali, o teu lugar junto de mim é igual ao que Aarão ocupava junto de Moisés, só que, depois de mim, nenhum outro Profeta virá”.
Outras tradições indicam Ali como guardião do povo e dos versículos do Alcorão, como esta, por exemplo:
“Apenas Deus e o Seu Mensageiro são teus amigos, assim como os crentes que oferecem as suas orações e dão a esmola mesmo quando prostrados”. (C. 5 – Versículo 55)
Esta última parte da frase refere-se ao Imam Ali (A.S.) que, certa vez, deu um anel em esmola a um pedinte quando se encontrava prostrado no chão, em oração. Várias outras tradições aludem a este fato, embora não as possamos mencionar aqui por falta de espaço.
O Imam Ali endossou publicamente a sucessão ao Imamato pelos seus filhos Hassan e Hussein, e este último declarou também a intenção de que o seu filho, Ali Zayn Al-Abidin lhe sucedesse, e que todos os outros Imames nomeassem os seus sucessores.
Doutrina da Crença Sobre o Número de Imames (Os Doze Imames)
Os muçulmanos Xiitas acreditam que existiram doze Imames, e que o Profeta conhecia o nome de cada um. Todos eles nomearam em vida quem lhes sucederia.
“Sou o senhor dos profetas, e Ali ibn abi Taleb é o senhor dos sucessores. Em verdade, meus sucessores são doze, o primeiro é o Ali ibn abi Taleb e o ultimo é o Mahdi”.
Os Imames sucessores do Profeta Mohammad (S.A.A.S.) são:
1) Abul Hassan Ali ibn abi Talib, chamado Al-Murtadha.
2) Abu Mohammad Hassan ibn Ali, chamado de al-Zaki.
3) Abu Abdillah Hussein ibn Ali, chamado de Sayyed Ashuhada.
4) Abu Mohammad Ali ibnol Hussein, chamado de Assajad.
5) Abu Jafar Mohammad ibn Ali, chamado de Al-Bakir.
6) Abu Abdillah Jafar ibn Mohammad, chamado de Assadeq.
7) Abu Ibrahim Musa ibn Jafar, chamado de Al-Kadhem.
8) Abul Hassan Ali ibn Musa, chamado de Al-Redha.
9) Abu Jafar Mohammad ibn Ali, chamdo de Al-Jawaad.
10) Abul Hassan Ali ibn Mohammad, chamdo de Al-Hadi.
11) Abu Mohammad Hassan ibn Ali, chamdo de Al-Askari.
12) Al-Qaim Mohammad ibn Hassan, chamado de Al-Mahdi.
O último Imam é ainda do nosso tempo, porque os Xiitas acreditam que ele não morreu, mas encontra-se oculto. Que Deus o faça reaparecer muito em breve, para que espalhe a justiça e igualdade neste mundo que está asfixiado pela maldade e pela corrupção.
Doutrina da Crença no “Imam al-Mahdi”
Muitas tradições ligadas ao Profeta referem-se à chegada, ou aparição, no final dos tempos, do Mahdi, que é descendente direto da sua filha, Fátima, e que espalhará a justiça e igualdade pelo mundo. Praticamente todas as seitas do Islam aceitam essa tradição, apesar de diferentes interpretações. Não se trata de uma crença exclusiva dos Xiitas, como certas opiniões mais malévolas querem fazer crer. Pelo contrário, a crença no Mahdi sempre existiu entre os muçulmanos. Como prova disso, ao longo do tempo, vários homens aparecerem, auto-intitulando-se de Mahdi, sobretudo no primeiro século depois do advento do Islam, entre os líderes dos Kaysanyyah, Abássidas e Alawyyah. Devido ao fato do povo acreditar na chegada de um Mahdi estes homens conseguiram usurpar, temporariamente, a sua posição, através do engano.
Os Xiitas, todavia, acreditam que o Islamismo é a última grande religião de Deus, e não esperam que nenhuma outra apareça para reformar o mundo. Contudo, observamos como a opressão e a tirania se espalham, diariamente, por todos os cantos do planeta, aumentando a injustiça e impedindo o desenvolvi- mento. Vemos também como os muçulmanos se esquecem dos princípios mais básicos da sua fé, onde quer que estejam, até em países islâmicos. Sabemos que só o restabelecimento completo do Islam, em todo o seu poder, poderá melhorar a sorte do mundo, mergulhado como ele está na opressão.
Com tantos antagonismos de opinião entre pretensos muçulmanos, como vemos hoje, se impede que a superioridade do Islam regresse, até que chegue um grande reformador, capaz de protegê-lo, de unir os povos e de erradicar todos os males que se embrenharam no Islamismo. Acreditamos que esse alguém chegará um dia, e estará dotado da mais elevada posição e autoridade. O seu poder será sobrenatural e conseguirá impor a retidão num mundo dominado pela injustiça. Em suma, constatamos o estado calamitoso da humanidade atual, a verdade eterna do Islam e sua posição como última grande religião, e espe- ramos que o Mahdi traga a salvação para o mundo. Todas as diversas seitas islâmicas estão de acordo neste aspecto, mas, no caso dos Xiitas, acredita- mos que este grande líder será o último Imam, nascido no ano de 870 DC19,
19. Ano 256 da Hégira no Islam.
de que ele se encontra vivo desde então e é o filho do Imam Hassan Al Askari, sendo o seu nome Mohammad. Muitas tradições que nos chegam do Profeta atestam este fato.
O Imamato deve, por isso, continuar, apesar do último Imam se encon- trar escondido entre os homens, até que Deus lhe ordene que reapareça em determinado dia, um mistério que apenas o Senhor conhece. O fato de o Imam estar vivo depois de tanto tempo é um milagre concedido por Deus, e não mais espantoso que o fato deste ter se tornado líder dos Xiitas aos cinco anos de ida- de, com a morte do seu pai. Um milagre que lembra o de Jesus, já visto como Profeta entre os seus desde criança. Do ponto fisiológico, sabemos que não é impossível exceder a atual esperança de vida entre os seres humanos, apesar de a medicina ainda não a conseguir prolongar. Mas se a ciência não é capaz de fazê-lo, Deus pode, porque Ele é Todo Poderoso e Onipotente. O Alcorão menciona o fato de Noé ter vivido até uma idade muito avançada, e também o fato que Jesus ainda se encontra vivo. Se aceitarmos o Islam como verdadeiro, não podemos negar estes fatos. Um muçulmano não pode disputar estes fatos e afirmar-se, ainda assim, crente.
Devemos também recordar que, apesar de esperarmos pela chegada deste Salvador, o Mahdi, como muçulmanos não devemos nos limitar a es- tar de braços cruzados e abandonar os nossos deveres religiosos. Devemos cumprir com as nossas obrigações e esforçarmo-nos para conhecer a verdade da fé. Devemos lutar pelo Islam e para implementar os seus princípios, além de incentivar outros a fazê-lo ou a admoestá-los quando não o fazem. Como disse o Profeta:
“Cada um de vós é como um pastor, que deve ser responsável pelo seu rebanho”.
Assim, não devemos nos afastar dos deveres da religião, e ficar à espera do Mahdi de forma indolente e preguiçosa.
Doutrina do Retorno
Sobre o Retorno, os Xiitas seguem o que foi dito pela família do Profeta: Deus far-nos-á regressar ao mundo depois da morte, com a mesma forma e corpo com que morremos; depois, separará os justos dos ímpios, e isto acontecerá no tempo do Mahdi. Deus não fará regressar senão a alma que atingiu um elevado grau de perfeição, ou o ímpio, afundado na corrupção. A seguir, fará com que regressem ao estado anterior, e ressuscitá-los-á no- vamente no Dia do Juízo Final, para receber o seu castigo ou recompensa. Deus menciona no Alcorão a vontade destas pessoas, que voltaram duas vezes ao mundo, de regressar uma terceira vez, de modo a mostrar arrepen- dimento pelos seus pecados:
“Dirão: Ó Senhor nosso, fizeste-nos morrer duas vezes e duas vezes nos deste a vida. Reconhecemos, pois, os nossos pecados! Haverá algum meio de nos livramos disso?” (C.40 – V.11)
Na verdade, o Alcorão menciona o Retorno, neste mundo, tal como muitas outras tradições que nos chegam do passado, e todos os Xiitas nisto acreditam. Alguns, todavia, interpretam esta crença de outra forma: de que o governo do mundo regressará à família do Profeta, no tempo do Mahdi, sem que ninguém seja ressuscitado.
Esta crença é considerada repugnante pelos muçulmanos Sunitas, que a consideram herética. Os seus teólogos põem-na em dúvida constantemente, e atacam quem a menciona. Mais ainda, classificam quem nela crê como des- crente20, politeísta, ou pior. A crença no retorno é um dos grandes motivos de discórdia entre Sunitas e Xiitas.
20. Kafir.
Estes antagonismos foram incentivados por certas seitas islâmicas no pas- sado, de modo a infligir o maior dano possível ao adversário. Na verdade, não há nenhuma prova que substancie a sua posição, uma vez que esta crença no Retorno em nada afeta os demais mandamentos da fé; apenas nos faz recordar o supremo Poder de Deus, capaz de ressuscitar os mortos, e este evento provará os milagres do Profeta e da sua descendência. Será semelhante ao milagre da ressurreição dos mortos efetuado por Jesus, apenas mais importante, uma vez que implicará a ressurreição dos corpos há muito desfeitos.
“E Nos propõe comparações e esquece a sua própria criação, dizendo: Quem poderá recompor os ossos, quando já estiverem decompostos? Dize: Recompô-los-á Quem os criou da primeira vez, porque é Conhecedor de todas as criações.” (C.36 – V.78 e 79)
Quem compara esta crença no retorno a algum tipo de transmigração das almas está errado, porque esta última afirma que a alma passa para outro corpo depois da morte. Não se trata da Ressurreição como a entendemos; nesta, a alma regressa ao seu corpo anterior.
Há quem refute por completo esta crença, dizendo que ela nunca ocorrerá, e que as tradições que a mencionam são falsas. Se houver algum mérito em discutir este assunto, concordaremos que esta crença não é as- sim tão provocadora, como afirmam os que se opõem aos Xiitas. Quantas outras crenças dividem as diferentes seitas islâmicas, e parecem ainda mais improváveis e incríveis? Há, por exemplo, quem acredite que o Alcorão é eterno; outros falam das imperfeições do Profeta, que se esquecia ou deso- bedecia aos mandamentos de Deus; os que crêem que, se Deus ameaça com um castigo, Ele é obrigado a agir desta forma; os que crêem que o Profeta nunca nomeou um sucessor, etc...
Acreditamos que o retorno implica uma ressurreição do corpo e da alma, e que ela terá lugar neste mundo. Não deve haver motivo de espanto, senão pelo fato de ser algo extraordinário e quase inconcebível para a mente humana.
Em tal caso, quando não podemos provar ou negar esta crença, devemos estudar os textos da tradição islâmica, que são inspirados por Deus. Há no Alcorão passagens que a ela se referem, tal como as que mencionam a ressur- reição dos mortos por Jesus.
“... curarei o cego de nascença e o leproso; ressuscitarei os mortos, com a anuência de Deus ...” (C.3 – V.49)
E diz Deus:
“Tampouco reparastes naquele que passou por uma cidade em ruínas e conjecturou: Como poderá Deus ressuscitá-la depois de sua morte? Deus o manteve morto durante cem anos; depois o ressuscitou e lhe perguntou: Quanto tempo permaneceste assim? Respondeu: Permaneci um dia ou parte dele. Disse-lhe: Qual! Permaneceste cem anos. Observa a tua comida e a tua bebida; constata que ainda não se deterioraram. Agora observa teu asno (não resta dele mais do que a ossada); isto é para fazer de ti um exemplo para os humanos. Observa como dispomos os seus ossos e em seguida os revestimos de carne. Diante da evidência, exclamou: Reconheço que Deus é Onipotente!” (C.2 – V.259)
“Dirão: Ó Senhor nosso, fizeste-nos morrer duas vezes e duas vezes nos deste a vida...” (C.40 – V.11)
Este versículo apenas fará sentido se houver um regresso a este mun- do depois da morte, por mais que os comentadores do Alcorão tenham opiniões divergentes.
Quanto aos que contestam a legitimidade desta crença, convém recor- dar as tradições que a mencionam desde sempre, e que ela é fundamental segundo a descendência do Profeta.
Não deixa de surpreender quando um autor famoso, Ahmad Amin, que se afirma conhecedor de causa, escreve no seu livro “O Advento do Islam”, que “o Judaísmo imiscui-se na tradição Xiita na crença do retor- no”. A ele diríamos que o Judaísmo, tal como o Cristianismo, também são mencionados no Alcorão como religiões verdadeiras, mesmo que o Islam lhes venha suplantar. Mencionar essas religiões no Islam não é nenhuma grande desgraça, mesmo que o autor afirme que a crença no retorno é de origem judaica.
De qualquer forma, o retorno não é um dos pilares da fé islâmica em que seja obrigatório acreditar; mas os nossos ensinamentos vêm da descendência do Profeta, que consideramos infalível. Ele era uma das suas crenças básicas, e nada há que o possa contradizer explicitamente.
Doutrina da Dissimulação “Taqiyyah”
É relatado pelo Imam Assadeq (A.S.) numa tradição autêntica:
“Taqiyyah é o meu “método” e o “método” dos meus antepassados. Quem não tem Taqiyyah não tem “método”.”
Foi o mote da casa do Profeta para a sua auto-proteção bem como a dos seus seguidores, de todo o perigo e derramamento de sangue, para melhorar a condição dos muçulmanos e para cimentar a harmonia entre eles.
Esta é ainda uma característica pelas quais os Xiitas são conhecidos, e que os distingue de outros setores e povos. Todos que sentem que há perigo para si próprio ou para a sua propriedade, como conseqüência da divulgação das suas doutrinas publicamente, devem praticar “Taqiyyah”.
É algo que parece razoável face à nossa inteligência natural. É de conhe- cimento comum que os Xiitas e os seus Imames sofreram muito e que lhes foi várias vezes negada a sua liberdade no decorrer da História, e que poucos outros povos sofreram como eles.
Assim, eles foram forçados em várias ocasiões a praticar “Taqiyyah” de forma a preservarem-se daqueles com outros ideais; para se manterem a si e aos seus ideais escondidos, enquanto a sua religião e a sua sobrevivência fossem ameaçadas. É pela “Taqiyyah” que se distingue um Xiita.
A “Taqiyyah” tem regras e observações que indicam se é obrigatória ou não, e estas são mencionadas nos capítulos relevantes de livros de jurispru- dência. Não é obrigatória em todas as ocasiões, é por vezes opcional; às vezes é obrigatório não a fazer, assim como quando é necessária a proclamação da verdade publicamente, em prol do Islam.
Nestas ocasiões a propriedade não tem valor, e as almas individuais não são de nenhuma importância. A “Taqiyyah” é proibida quando a vida de alguém está em perigo, quando a falsidade é propagada, quando algo ameaça o Islam ou quando a justiça é espalhada no seio da comunidade.
O objetivo da “Taqiyyah”, na perspectiva dos Xiitas, não é a formação de uma organização secreta dedicada à destruição, como alguns dos seus inimi- gos, que não são capazes de ver a situação à sua verdadeira luz, imaginaram e imaginam, pois esses indivíduos não fizeram um esforço para realmente perceberem o que dizemos. O propósito não é fazer com que o Islam e as suas regras sejam secretas e que não possam ser divulgadas àqueles que não acreditam. Não, os livros dos Xiitas e as suas escrituras ao nível da lei, da jurisprudência, e os seus estudos teológicos, bem como os seus ideais, são de grande abundância e divulgação no mundo, mais do que qualquer outro setor que esteja seguro do seu caminho.
A nossa crença na “Taqiyyah” tem sido abusada por parte daqueles que querem denegrir os Xiitas, e eles consideram que este é um dos seus pontos fracos, pois parece que não estão satisfeitos com os pescoços postos em risco na tentativa de acabar com eles, na altura em que bastava um indivíduo se assumir como Xiita para assegurar a sua morte pelas mãos dos inimigos da Casa do Profeta, desde os Omíadas e os Abássidas até aos Otomanos.
Se os que nos atacam dizem que não há provas para a realização da “Taqiyyah” no Islam, podemos refutá-los. Primeiramente, seguimos os nossos Imames e somos guiados pelo que é ensinado por eles, e eles nos ordenaram a prática da “Taqiyyah” quando necessário, e isto é para eles uma parte integral do Islam, como observam pelo que é dito pelo Imam Assadeq (A.S.):
“Quem não pratica a Taqiyyah não tem religião”.
Em segundo lugar foi-nos comandado pelo Alcorão:
“Aquele que renegar Deus, depois de ter crido - salvo quem houver sido obri- gado a isso e cujo coração se mantenha firme na fé (...)” (C. 16 – V. 106)
Este versículo foi-nos revelado acerca de Ammar ibn Yasir, que se protegeu ao proclamar a sua descrença aos inimigos do Islam. Deus disse também:
“E um homem fiel, da família do Faraó, que ocultava a sua fé...” (C.40 – V.28)
“Que os fiéis não tomem por confidentes os incrédulos, em detrimento de outros fiéis. Aqueles que assim procedem, de maneira alguma terão o auxílio de Deus, salvo se for para vos precaverdes e vos resguardardes. Deus vos exorta a d’Ele vos lembrardes, porque para Ele será o retorno” (C.3 – V.28)